quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Crônica: Benjamin

Todos os dias é a mesma coisa. O relógio desperta às 6h15. Ele levanta, verifica se o menino acordou, acompanha o movimento e se deita de novo, afinal, não se pode desperdiçar mais umas horinhas de sono de manhã. Ao certificar-se de que o menino arruma-se para a escola, pode voltar a repousar com tranquilidade.

Seis e meia da manhã, o menino e o pai saem. Com o barulho da batida da porta, Benjamin vê a barra limpa e resolve trocar de cama. Já pode aninhar-se no quarto do menino. Ninguém atrapalha seu intento. A mãe e o caçula ainda dormem.

Mais tarde, quando todos estão despertos, ele aguarda o momento de ir para a pracinha de brinquedos. Às vezes diverte-se sozinho, outras com a amiga de folia de todas as manhãs. Poucas vezes em grupo, já que, quando tem mais de um, brigas acontecem. Ben já saiu machucado de algumas delas. Todos correram para socorrê-lo. Chegou a perder sangue.

Mas ele é tranquilo. Gosta de estar só. De prestar atenção nos movimentos. De refletir a respeito daqueles com quem convive, mas que são diferentes dele. Muito diferentes. É complicado entender o quanto Ben ama as pessoas de sua casa, já que não entende a maioria das atitudes e reações dos pais e dos outros meninos.

Se eu pudesse testemunhar a respeito de Benjamin, digo que é fiel e doce. Não puxa brigas e quase sempre é obediente. Quase. Quando recebe ordens que não gosta fica emburrado por um tempo, mas sempre acaba cedendo. Tem personalidade, mas é de bom caráter.

E as manias? Não gosta das portas internas da casa fechadas. Deve ser claustrofóbico. Acolhe visitas com entusiasmo e faz questão de levá-las à porta quando se despedem. Faz caminhadas matinais. No inverno, rejeita as roupas grossas e pesadas. Prefere passar um pouco de frio a andar todo enrolado. Fazer o quê? Cada um com suas manias.

Hora da leitura em família. O menino lê histórias. Benjamin e o caçula escutam atentos. Um tem brinquedos nas mãos. Ben debruça-se para ouvir ou simplesmente pelo prazer da companhia. A família reunida é a sua alegria.


Lá vem o pai dizer que é hora de dormir. “Cada um na sua cama”. O caçula insiste em ficar com a mãe. O mais velho que assistir TV mais um pouco. Benjamin separa-se dos outros. Afinal, cachorros não são pessoas. Devem dormir separados. E quem sabe, daqui alguns dias, na pracinha não poderá mais brincar? Que cachorrada!




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